(Leia também a crítica do live-action de Mulan)
Provavelmente, você jovem do ocidente deve ter sido introduzido à guerreira Mulan na animação homônima da Disney lançada em 1998. Entretanto, a história que serviu de inspiração para um dos maiores e mais memoráveis sucessos do estúdio é muito mais antiga e tem diferentes versões.
Originalmente, a fonte da lenda de Hua Mulan veio de uma canção folclórica na dinastia Wei do Norte (386 dC - 557 dC) chamada A Balada de Mulan. A lenda foi transcrita pela primeira vez nos Registros Musicais do Antigo e do Novo, uma compilação de livros e canções do monge Zhijiang na dinastia Chen do Sul no século VI. Infelizmente, essa transcrição foi perdida, mas um “herdeiro” sobreviveu ao tempo.
Citando explicitamente os Registros Musicais do Antigo e do Novo como fonte, o antologista de poesia da dinastia Song, Guo Maoqian, adicionou A Balada de Mulan na Coleção do Bureau da Música, uma compilação de letras, canções e poemas que vem do século XI ou XII. Essa versão tem 31 dísticos - um estilo de versejar em que as rimas se fazem em grupos ou estrofes de dois versos - e é composta principalmente por cinco caracteres.
Foto: Pintura de Pan-Li shui no Templo Dalongdong Baoan |
No enredo, Mulan ouve que o exército está recrutando novos soldados e, para salvar o pai idoso e doente, decide se alistar em seu lugar. No fim da guerra, é oferecido a ela um posto oficial, mas Mulan pede apenas um camelo para retornar para casa. Quando ela veste as roupas femininas, os colegas soldados percebem que ela era uma mulher durante todos os anos em que esteve no exército.
Embora A Balada de Mulan não indique expressamente um cenário histórico, a balada carrega referências geográficas e culturais atribuídas à dinastia Wei do Norte. Ainda existe debate sobre Mulan ser uma pessoa histórica ou apenas uma lenda. Por seu nome não figurar no Exemplary Woman - uma compilação de biografias de mulheres durante a dinastia Wei do Norte -, Hua Mulan é tratada mais como uma lenda do que como uma pessoal real.
A teoria sobre ela não ter existido é reforçada por sua história estar presente no One Hundred Beauties, uma coletânea escrita por Yan Xiyuan sobre várias mulheres do folclore chinês. Na coletânea, Mulan é descrita como uma guerreira chinesa que viveu durante as dinastias do Norte e do Sul, entre 420 e 589 dC.
O conto de Mulan só ressurgiria no final da dinastia Ming, que governou a China de 1368 a 1644. Em 1593, o dramaturgo Xu Wei dramatizou a lenda em uma peça com dois atos em A Mulan Feminina ou A Heroína Mulan Vai à Guerra no Lugar do Pai. Entretanto, a versão que mais difere de A Balada de Mulan popular está incorporada a um romance histórico escrito por Chu Renhuo no século XVII.
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Foto: Retrato no álbum Gathering Gems of Beauty |
Porém, o rei é derrotado e condenado à morte por ficar ao lado do inimigo da dinastia Tang. Para salvá-lo, as duas mulheres se entregam para serem condenadas no seu lugar. Em um ato de piedade do Imperador Taizong de Tang e da consorte imperial, o perdão é concedido para ambas, além de fundos de casamento para a princesa que estava prometida e permissão para Mulan retornar para casa com dinheiro suficiente para sustentar sua família.
Diferente do final feliz das outras versões, Mulan descobre que pai morreu em sua ausência e que a mãe se casou novamente, a condenando a se tornar uma concubina. No fim, Mulan se suicida em uma resolução extremamente diferente da animação da Disney.
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Foto: Pintura de Hua Mulan do século 18 alojada no British Museum |
Independente da sua história ser real ou não, Hua Mulan é sinônimo de esperança para a China e permanece muito popular ao redor do mundo, com inúmeras peças, livros e filmes baseados no conto, além de monumentos. A lenda da nobre jovem guerreira tem sido fonte de inspiração para muitas mulheres ao longo dos anos, seja nas incríveis versões chinesas ou na versão conto de fadas da animação.